Holter: quando realizar esse exame cardiológico
Publicado em: 03/08/2021
Holter é um monitor portátil capaz de registrar a atividade elétrica do coração e acompanhar as variações do ritmo cardíaco durante 24 horas do dia ou mais. O exame é recomendado para detectar alterações que, porventura, não tenham aparecido no exame de eletrocardiograma e precisem de uma investigação mais profunda. Na realidade, o Holter pode ser compreendido como um eletrocardiograma com maior tempo de duração.
O equipamento consiste em um gravador de registro, que é preso na cintura do paciente e ligado a eletrodos que são afixados à região do tórax. Cabe destacar que os gravadores do sistema Holter devem cumprir as exigências e padrões definidos pela American Heart Association, além de ter capacidade para realizar gravações sem distorções dos sinais de alta e baixa frequência, e que estejam entre 0,05 e 100Hz.
Os dados obtidos durante o tempo de permanência com o aparelho são transferidos para um cartão de memória e processados por um computador. A informação, então, é reproduzida no formato de gráficos, traçados, tabelas e de um relatório, chamado de relatório tabular. Dessa forma, o Holter é capaz de detectar, classificar e quantificar arritmias, além de calcular variações na frequência cardíaca.
Como surgiu o exame Holter?
A primeira vez que o Holter foi implementado para o uso clínico data de 1961, quando o biofísico norte-americano Norman Jefferis Holter iniciou seus trabalhos no registro da atividade elétrica cardíaca de longa duração, demonstrando ser uma ferramenta segura e ágil para o diagnóstico de alterações cardíacas.
A ideia inicial foi elaborada por intermédio do recurso de telemetria, muito utilizado na Segunda Guerra Mundial, para a testagem dos efeitos à distância da bomba atômica em ondas do mar. A elaboração do primeiro protótipo eletrocardiográfico portátil permitiu a monitorização da atividade elétrica cardíaca prolongada, tratando-se de um aparelho de rádio (eletrocardiográfico) que captava sinais pelo recurso de telemetria.
Dessa forma, a análise dos dados dependia de um sistema audiovisual de sinais por superposição, que pesava em torno de 40 quilos, atrelado ao corpo do paciente. A intenção inicial era o monitoramento da frequência cardíaca de astronautas, pilotos, paraquedistas e alpinistas.
Na sequência, o método avançou para os registros feitos em grandes rolos de fitas magnéticas. Dessa forma, os gravadores eram previamente programados para realizar um registro a cada hora.
Posteriormente, e por muitos anos, o registro da atividade elétrica cardíaca foi realizado por gravadores compactos de fitas cassetes, capazes de registrar continuamente por um período de 24 horas. Já na década de 1980, com o surgimento dos gravadores digitais, alguns modelos proporcionaram que os registros fossem ampliados para até sete dias de gravação e sem interrupções.
Mas afinal, para que serve o Holter?
O Holter, também conhecido como eletrocardiografia dinâmica ou monitoração ambulatorial do eletrocardiograma, é utilizado para diagnosticar anormalidades elétricas do coração e arritmias cardíacas que, muitas vezes, não são percebidas durante a realização do exame de eletrocardiograma convencional.
Trata-se de um procedimento simples e não invasivo, sem contraindicações específicas. O método é particularmente útil e amplamente indicado para pacientes com sintomas recorrentes e diários, onde há maior possibilidade de se detectar o evento.
As gravações fornecidas variam de 24 a 96 horas, a depender da solicitação médica, sendo a de 24 horas a mais utilizada. O exame, então, consegue verificar situações de comportamento elétrico anormal do coração no ambiente natural do paciente, ou seja, nos momentos de sono, trabalho, prática de exercícios físicos, entre outros.
Além disso, permite qualificar e quantificar as arritmias, determinar padrão circadiano e fazer correlação clínico-eletrocardiográfica dos sintomas apresentados. Alguns sistemas permitem também a apresentação de 12 derivações ortogonais modificadas, com maior número de eletrodos através de cálculo vetorial computadorizado – o Sistema Easy.
O exame é indicado para pacientes com histórico de arritmias, palpitações ou que tenham tido episódios de perda de consciência e desmaios. Também é altamente recomendado para acompanhar e monitorar a saúde cardiovascular após a ocorrência de infarto do miocárdio ou de cirurgias cardíacas e para os pacientes que utilizem marca-passo ou desfibriladores. Além disso, é capaz de detectar isquemia miocárdica silenciosa, avaliar prognóstico e facilitar planejamento terapêutico.
Como o exame Holter é realizado?
Antes de iniciar o exame, é preciso se certificar de que a pele esteja limpa e sem cremes ou hidratantes. Na sequência, colocar-se-ão os eletrodos, que são conectados por meio de fios a um receptor. Esse, por sua vez, é acoplado à cintura do paciente, registrando a atividade elétrica cardíaca durante todo o período em que está conectado. Todo o processo de colocação do aparelho dura cerca de 15 minutos.
O paciente deve realizar todas as suas atividades diárias normalmente, exceto tomar banho. Durante o período de monitoramento, o médico orienta o paciente a anotar suas atividades e destacar os horários de ocorrência dos sintomas, como, por exemplo, palpitações, tonturas e falta de ar, a fim de cruzar os dados e avaliá-los em conjunto com o relatório gerado pelo Holter.
Após as 24 horas com o aparelho, o paciente deve retornar ao consultório médico ou clínica especializada para a retirada do monitor e apresentar suas anotações, a fim de que o cardiologista possa iniciar a avaliação com base no conjunto de informações.
Sendo assim, os dados são digitalizados e disponibilizados no formato de gráficos e tabelas. Os períodos considerados mais relevantes podem ser impressos com diversas ampliações e durações do traçado, para uma melhor avaliação pelo médico.
O sistema utilizado pelo Holter é constituído com algoritmos para detecção de arritmias, análise de funcionamento de marcapassos, análise da variabilidade da frequência cardíaca, Segment ST, medidas do intervalo QT e QT corrigido, análise da apneia do sono e, mais recentemente, o dispositivo preditor de desenvolvimento de fibrilação atrial (SRA – Stroke Risk Analyzis).
É preciso algum preparo para realizar o exame Holter?
Mesmo não sendo necessário nenhum preparo, as dicas para o eletrocardiograma valem também para o Holter. Então, a recomendação é a de que as mulheres usem roupas que facilitem erguer apenas a blusa e, para alguns homens, que a região do tórax esteja livre de pelos, exatamente para a melhor fixação dos eletrodos.
É importante lembrar que médicos de todas as especialidades estão aptos a solicitar o exame, mas o laudo somente poderá ser emitido por um cardiologista.
*Texto elaborado com a colaboração da professora Dra Martha Rustum.
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